Tarifa de 25%: um retrocesso aos tempos de Smoot-Hawley?

“President Donald J. Trump for Time Magazine in 2019” by Pari Dukovic, inkjet print, June 17, 2019 (printed 2020). National Portrait Gallery, Smithsonian Institution. Copyright 2019 Pari Dukovic.
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Douglas Holanda

Em pleno século XXI, quando a economia global é movida por cadeias de suprimentos interconectadas, a ideia de impor uma tarifa de 25% soa, para muitos, como uma viagem de volta a tempos turbulentos. Uma análise histórica dos dados revela que, no início do século passado, as tarifas dos Estados Unidos eram realmente elevadas – e, de fato, um aumento tão expressivo representaria um retorno a políticas adotadas antes do infame acordo Smoot-Hawley, que exacerbou as tensões comerciais internacionais.

Da história à realidade atual

Em 1972, a tarifa média dos EUA estava em torno de 6%, fruto de uma série de cortes e ajustes realizados para facilitar o desenvolvimento econômico, controlar problemas como a produção de drogas (com iniciativas como a ATPA) e integrar a economia global por meio de acordos como o GATT e, posteriormente, a Organização Mundial do Comércio (OMC). A partir da década de 1980, com a assinatura de acordos bilaterais – iniciando com Israel, Canadá e culminando com o NAFTA – o processo de hiper-globalização tomou força, reduzindo ainda mais as barreiras tarifárias.

Ao longo dos anos, esse cenário de liberalização beneficiou grandes corporações e consumidores, mas também teve efeitos desiguais sobre trabalhadores e comunidades. E, embora muitos reconheçam que a globalização trouxe desafios e desigualdades, a proposta de aumentar drasticamente os impostos de importação não é a solução.

O impacto devastador de um aumento abrupto

Imagine o seguinte: além de elevar os preços dos produtos para os consumidores de forma rápida e intensa, a imposição de tarifas de 25% afetaria negativamente uma cadeia de suprimentos global que depende de várias travessias de fronteiras. Cada vez que um produto ou componente cruzasse uma divisa, ele estaria sujeito à incidência de tarifas, acumulando custos e, consequentemente, tornando o produto final muito mais caro. Esse efeito cascata pode gerar uma inflação inesperada e desestabilizar setores inteiros da economia.

Além disso, a retórica de que aumentar tarifas incentivaria as empresas a “repatriar” a produção e criar empregos em comunidades afetadas é, no mínimo, ilusória. A realidade é que a complexidade das cadeias de valor globais não pode ser desfeita da noite para o dia. A história mostra que os ganhos acumulados ao longo de quase um século de liberalização não podem ser simplesmente revertidos sem causar danos significativos – tanto à economia quanto aos consumidores.

Os perigos do protecionismo moderno

O protecionismo, na forma de tarifas elevadas, não é apenas um retrocesso econômico; é um risco para a estabilidade global. As lições do passado, como as experiências que levaram à Grande Depressão, nos alertam sobre os perigos de adotar medidas que promovam um ambiente de “cada um por si”. A escalada tarifária pode levar a retaliações comerciais, prejudicar relações diplomáticas e, em última análise, minar a cooperação internacional que tem sido crucial para evitar os erros históricos do protecionismo extremo.

Ao mesmo tempo, a ideia de que essas barreiras protecionistas ajudariam as comunidades desamparadas é enganosa. Aumentar os custos dos produtos sem fortalecer simultaneamente as redes de segurança social e investir em programas de transição para os trabalhadores pode resultar em um duplo golpe: preços mais altos para o consumidor e uma menor proteção para os que mais precisam.

O caminho para um futuro sustentável

Em vez de recorrer a medidas extremas que podem reverter décadas de progresso e gerar uma cascata de efeitos negativos na economia, a solução passa por enfrentar as raízes das desigualdades geradas pelo comércio internacional. É imperativo investir em programas que facilitem a adaptação dos trabalhadores às mudanças do mercado, proporcionando treinamento, educação e suporte social.

Governos e empresas devem colaborar para identificar os setores mais vulneráveis e implementar políticas de apoio que promovam uma transição suave para novas oportunidades de trabalho. Essa abordagem não apenas protege as comunidades, mas também mantém a integridade e a eficiência das cadeias de suprimentos globais, evitando a deterioração de um sistema que, apesar de suas falhas, tem sido um motor de crescimento e inovação.

No final, o que está em jogo não é apenas o equilíbrio econômico, mas o futuro de uma sociedade que deve ser resiliente, inclusiva e capaz de se adaptar às transformações do mundo moderno. O verdadeiro desafio é corrigir as desigualdades sem sacrificar os ganhos conquistados ao longo de décadas de integração global – um caminho que exige coragem, inovação e, acima de tudo, um compromisso com a justiça social.

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