As eleições presidenciais de 2022 no Brasil trouxeram uma surpreendente reviravolta no cenário político e econômico. Economistas renomados, historicamente associados à implementação de políticas liberais e à estabilidade econômica do país, como Pedro Malan, Edmar Bacha, Persio Arida, Armínio Fraga, André Lara Resende, Monica de Bolle e até influenciadores financeiros como Nath Finanças, apoiaram abertamente o presidente Lula no segundo turno. Tal apoio gerou controvérsia não apenas pela contradição às ideias que historicamente defenderam, mas também pela aparente ausência de críticas ao governo atual, mesmo diante de evidentes retrocessos econômicos.
O Apoio ao Candidato Lula
O endosso desses economistas a Lula foi justificado, em grande parte, como um ato de rejeição ao governo Bolsonaro. As críticas de Bolsonaro incluíam a deterioração do teto de gastos, medidas consideradas populistas e o enfraquecimento das instituições democráticas. No entanto, a escolha por Lula como alternativa representou um rompimento com os princípios que eles mesmos ajudaram a construir:
- Pedro Malan: Durante seu tempo como ministro da Fazenda, trabalhou para consolidar o Plano Real, reduzir a inflação e abrir o país ao capital estrangeiro. Seu apoio a Lula contrastou com suas críticas históricas ao populismo fiscal, algo que o governo atual reincorporou em larga escala.
- Edmar Bacha e Persio Arida: Arquitetos do Plano Real, ambos enfatizaram por décadas a necessidade de responsabilidade fiscal e políticas de mercado. Mesmo assim, preferiram Lula, cujo governo tem se distanciado drasticamente dessas premissas.
- Armínio Fraga: Como ex-presidente do Banco Central, Fraga foi um dos principais defensores do regime de metas de inflação e do rigor monetário. Ainda assim, optou por apoiar um governo que vem promovendo intervenções no Banco Central e minando sua autonomia.
- Monica de Bolle: Embora seja conhecida por defender pautas sociais e ambientais, também reconheceu a importância de políticas macroeconômicas robustas. Seu apoio a Lula reflete uma aparente desconexão entre discurso e prática.
- André Lara Resende: Um dos principais defensores da ideia de responsabilidade fiscal, recentemente tem feito declarações polêmicas que parecem justificar o gasto público descontrolado. Seu apoio a Lula reforçou essa nova narrativa, que contradiz sua própria trajetória.
- Nath Finanças: Com seu papel de educadora financeira para as massas, esperava-se que defendesse princípios de responsabilidade com o dinheiro, mas seu apoio a Lula surpreendeu ao ignorar as consequências das políticas adotadas pelo governo.
As Contradições do Governo Lula na Economia
O governo Lula, desde o início de 2023, tem adotado medidas que confrontam diretamente os princípios econômicos que esses especialistas historicamente defenderam:
- Populismo Fiscal:
- Expansão desenfreada dos gastos públicos, ignorando o teto de gastos.
- Criação de novos programas sociais sem uma base fiscal sustentável.
- Ataques à Autonomia do Banco Central:
- Lula fez críticas públicas ao Banco Central e ao presidente da instituição, questionando a taxa de juros e desconsiderando os impactos inflacionários de suas políticas.
- Intervenção Estatal:
- O retorno às práticas de intervencionismo, como no caso da Petrobras, tem gerado desconfiança no mercado.
- Propostas de tributação excessiva em setores específicos, afetando a competitividade e a confiança empresarial.
- Inflação Persistente:
- Embora a inflação tenha desacelerado em níveis globais, no Brasil, as políticas fiscais expansionistas e a falta de coordenação macroeconômica mantêm pressões inflacionárias.
- Retórica Antimercado:
- Um discurso hostil ao empresariado e ao mercado financeiro, que contradiz a visão mais pragmática dos economistas que o apoiaram.
O Silêncio Ensurdecedor
O que talvez mais surpreenda seja o silêncio de todos esses apoiadores diante do desempenho econômico do governo. Nenhum deles tem criticado publicamente as medidas de Lula, mesmo quando claramente contrárias aos princípios que sempre defenderam. Algumas possíveis explicações incluem:
- Alinhamento ideológico tardio: Muitos podem ter passado a priorizar pautas sociais e ambientais em detrimento de fundamentos econômicos.
- Receio de polarização: A intensa divisão política no país pode ter desincentivado críticas abertas.
- Afastamento do debate público: Alguns, como Malan e Fraga, podem ter optado por manter um perfil discreto, ainda que isso contradiga sua influência em debates passados.
A Importância da Coerência
Os economistas que ajudaram a construir os pilares da estabilidade econômica brasileira têm uma responsabilidade histórica. Sua aparente omissão diante dos erros do governo atual não apenas mina a credibilidade de suas próprias ideias, mas também deixa a sociedade sem lideranças técnicas em um momento crítico. O silêncio deles é um lembrete de que a coerência é um valor indispensável na vida pública.
Se o governo Lula continuar em sua trajetória de abandono da responsabilidade fiscal e intervenções prejudiciais, a história julgará não apenas o governo, mas também aqueles que escolheram ficar em silêncio quando poderiam ter feito a diferença.
É urgente que figuras como essas retomem suas vozes e defendam os princípios que uma vez guiaram suas carreiras e trouxeram progresso ao país.