O crescimento de 0,9% no PIB do terceiro trimestre de 2024, conforme dados divulgados, reforça a estimativa de alta de 3,5% para o ano. A notícia de expansão econômica, à primeira vista positiva, é sustentada por dois pilares: o consumo das famílias e o setor agropecuário, este último em ascensão graças a uma supersafra. No entanto, uma análise mais profunda revela os riscos de uma política que prioriza o consumo como motor de crescimento, potencialmente alimentando a inflação e fragilizando a economia em médio prazo
O setor agropecuário foi determinante para o desempenho do PIB, registrando um crescimento anual acumulado de 14%. A produção agrícola, alavancada pela alta produtividade e por condições climáticas favoráveis, impulsionou exportações e forneceu estabilidade em um cenário econômico global volátil. No entanto, essa dependência de commodities agrícolas expõe a economia a riscos de mercado externo, como variações climáticas e flutuações nos preços internacionais
Além disso, a desaceleração esperada para o setor em 2024, em função da supersafra atual e de possíveis eventos climáticos adversos, levanta a questão: como sustentar o crescimento econômico sem uma diversificação estrutural? A economia precisa de um equilíbrio entre o agronegócio e outros setores, como indústria e serviços, que ainda enfrentam desafios para retomar seu potencial pleno
A principal alavanca do crescimento recente foi o aumento do consumo das famílias, estimulado por programas de transferência de renda, renegociação de dívidas e incentivos ao crédito. Embora essas medidas possam trazer alívio no curto prazo, a demanda interna elevada, em um cenário de oferta ainda restrita em diversos setores, exerce pressão sobre os preços.
A inflação acumulada em 2024 já supera a meta de 3,25%, com projeções revisadas para 3,4%. Este quadro é agravado por fatores externos, como a valorização do dólar e o impacto de commodities, além de reajustes pontuais, como nos combustíveis. Enquanto o governo comemora a redução do desemprego e o aumento do consumo, há um custo implícito: a perda do poder de compra, que penaliza sobretudo os mais pobres
Embora o crescimento econômico em 2024 seja prometido como consequência de uma política fiscal ativa, há limitações claras. Programas como o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que incentivam infraestrutura e parcerias público-privadas, são bem-vindos, mas ainda não compensam os efeitos de longo prazo de uma economia dependente do consumo.
A política econômica deveria, idealmente, buscar incentivar a produtividade, promover investimentos em tecnologia e infraestrutura, e reduzir custos sistêmicos. Essas medidas aumentariam a capacidade produtiva do país, permitindo uma expansão econômica mais equilibrada e sustentável
O crescimento do PIB no terceiro trimestre é, sem dúvida, um dado relevante, mas as circunstâncias que o sustentam suscitam preocupações. Uma economia que prioriza o consumo interno como motor de crescimento ignora os efeitos inflacionários e as fragilidades estruturais. O Brasil, para consolidar um crescimento robusto e inclusivo, precisa redirecionar suas políticas, buscando equilíbrio entre demanda e oferta, controle da inflação e diversificação econômica. Somente assim será possível transformar momentos de expansão em bases sólidas para o desenvolvimento futuro.