O mais recente Boletim Focus, divulgado em 2 de dezembro de 2024, traz um retrato inquietante da economia brasileira, destacando tendências que desafiam a estabilidade e a confiança no futuro. Dólar a R$6,08, euro a R$6,35, e a inflação projetada em 4,71% desenham um quadro de fragilidade, reforçado por uma taxa Selic estimada em 11,75% para 2024, com perspectivas de ultrapassar 12% em 2025. Essas projeções são um reflexo direto das escolhas do governo e da percepção do mercado sobre a sustentabilidade fiscal do país.
É imperativo compreender o que esses números revelam. O câmbio galopante evidencia a perda de confiança internacional, resultado de políticas fiscais que abandonaram a disciplina em favor de um intervencionismo desenfreado. Ao substituir o teto de gastos por um arcabouço fiscal mais flexível, o governo alimentou as incertezas, gerando um efeito cascata que se reflete nos mercados de câmbio e de crédito. O real, desvalorizado, onera importações e pressiona ainda mais a inflação — um ciclo vicioso que penaliza o trabalhador comum.
O Boletim Focus também expõe uma contradição central: embora o PIB seja projetado para crescer 3,22% em 2024, esse avanço ocorre em um ambiente de juros altos e uma dívida pública crescente, que estrangulam investimentos produtivos e inibem a geração de emprego de qualidade. Assim, o crescimento parece mais um reflexo de políticas expansionistas de curto prazo do que de uma estratégia sustentável.
A história econômica ensina que prosperidade duradoura exige fundamentos sólidos: estabilidade fiscal, previsibilidade regulatória e confiança do mercado. O que vemos hoje é uma inversão desse princípio. Em vez de criar um ambiente que favoreça a produtividade e o crescimento orgânico, o governo recorre a medidas paliativas que aumentam o endividamento e comprometem as gerações futuras.
Se o Brasil deseja reverter este cenário, é essencial que as lições do Boletim Focus sejam levadas a sério. Não se trata apenas de números em uma planilha, mas de indicadores que refletem o bem-estar econômico e social da nação. Resgatar a confiança exigirá mais do que discursos e promessas; será necessária uma mudança estrutural que devolva ao Brasil sua credibilidade e seu potencial.
Por: Douglas de Holanda – The Doug Economist
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